Oku Saka

O Colecionador de Casos

Reflexão - Por Dito Benedito 

Lopes, carinhosamente tratado por Louco, estacionava-se algures, numa dessas avenidas da cidade capital aguardando o candongueiro que lhe vai levar ao tão esperado destino que, se prestarmos atenção, ele mesmo desconhece. 

Passam-se quatro, dez, vinte minutos e nada de táxi. Joga-se aos interrogatórios afim de saber o que se passa, e então dá-se conta de que está numa zona nobre onde os azuis e branco não se atrevem a passar. 

Olha para o relógio invisível no braço e dá-se conta de que o dia caminha para o meio e percebe que o sol virá, com mais força, aquecer-lhe o franzino esqueleto coberto de pele. Põem-se andar até encontrar uma rua que lho dá acesso a outra avenida, maior do que a outra. 

Caminha às pressas e encontra, finalmente, a avenida cujo o nome é uma homenagem ao partido que lhe oferece casos e motivos para continuar conforme é. Vê ao longe um aglomerado de gente e aproxima-se questionando o que se passa. 

- Não há táxi - responde um dos transientes.

- Há táxi sim, mas estão a fazer vias curtas - reponde o outro. 

- E onde prendes ir? - pergunta o outro.

- Vou ao encontro da felicidade - responde Lopes.

- Estás na paragem errada, amigo. Volte por onde vieste e pergunte-os porquê fazem de tudo para apagar o itinerário da tão procurada felicidade.

- Perguntar à quem? - questiona Lopes.

- Achei que estivesses louco, afinal não estás, pois só os loucos desconhecem as causas de suas loucuras. 

- Então estou curado?

- Não estás, a cada dia pioras e nem te dás conta disso.

"Zamba 2, Zamba 2", ouve-se o cobrador de táxi.

- Assim Zamba 2 também é 200? 

- Ah, tudo subiu, querida!

- Tudo não, o meu salário continua uma miséria, mas agora tenho de pagar o triplo daquilo que pagava para uma viagem até ao meu destino.

- Qual é o teu destino? também vais a procura da felicidade? - Questiona Lopes, o Louco. 

- Senhor, vai à merda.

- Eu já aqui estou. Existe lugar pior do que este?

- Pensando bem não sei se existe. Mas sei que existe, dentro do nosso mundo, um mundo com pessoas que não pensam duas vezes se o assunto for nos fazer reféns dos seus caprichos. Fazem as coisas a favor dos seus interesses sem se importar com o bem-estar dos que neles confiaram.

- Dona, chamo-me Lopes, mas chamam-me Louco e prefiro continuar louco do que refletir em tudo que disseste, pois, conforme disse Platão, a loucura é uma embriaguez necessária, e acrescento que, em terras onde os tais não prestam contas dos seus atos, não se baseiam numa ideologia de referência, e optam por fazer qualquer coisa que lhes atravessa a mente, mas vale ser louco do que buscar a sanidade. 

- Então, achas que este é o único caminho? - pergunta a senhora.

- Não, existem vários caminhos. Tu é que escolhes que caminho seguir. Eu por exemplo, vou agora seguir outro caminho, ou seja, outro caso para a minha coleção. 

- És um louco colecionador?

- Tu é que dizes! Mas olha, sobre o que vos deixa aqui aos montes, penso que os tais deveriam criar uma comissão para fiscalizar a ação desses que ontem foram vossos parceiros e hoje agem como se nunca conhecessem as vossas dores.

- Mas os tais não nos ouvem! 

- Encontrem novas e melhores formas de comunicar! Talvez esteja aí o problema.


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