Com a conclusão da contagem dos votos da emigração nas eleições legislativas de 18 de Maio, o Partido Chega tornou-se a segunda maior força política em Portugal. O partido liderado por André Ventura, identificado como de matriz racista e anti-imigração, ultrapassou o Partido Socialista e consolidou-se como a voz principal da oposição.
O facto adquire um peso especial ao considerarmos que Portugal é, actualmente, o país europeu com a maior comunidade angolana. A ascensão do Chega não é um fenómeno isolado: espelha uma onda de extremismo de direita que já conquistou palcos em várias partes da Europa e teve nos EUA, com Donald Trump, um dos seus ícones.
Em Angola, a reacção foi imediata. O MPLA, partido que sustenta o governo, lamentou o que chamou de "retrocesso democrático" em Portugal. A preocupação é evidente: um partido com um discurso abertamente hostil a imigrantes agora ganha força justamente num país com profunda relação histórica com Angola.
Nas contas finais, a coligação AD obteve 89 deputados (30% dos votos), o Chega ficou com 58, e o PS caiu para a terceira posição com também 58 deputados, mas menos votos. A votação expressiva do Chega entre emigrantes, especialmente na Europa, foi decisiva para esta virada.
O avanço da extrema-direita portuguesa desperta apreensão entre as comunidades migrantes, em particular a africana e asiática, que historicamente têm sido alvo do discurso excludente do Chega. Muitos recordam que André Ventura já propôs políticas como deportações em massa, restrições à cidadania e vigilância a comunidades específicas.
O crescimento do Chega, segundo analistas, pode abrir caminho para um endurecimento da política migratória e para uma reconfiguração radical do discurso político português. Se isso se concretizar, Portugal poderá voltar a flertar com um passado autoritário que muitos julgavam enterrado com o 25 de Abril de 1974.
