Oku Saka

Entrevista - Ricardo Buta reforça missão educativa: “As nossas crianças precisam de se ver nos livros”

Conhecido pelo seu percurso multifacetado no fitness, nutrição e activismo social, Ricardo Buta está prestes a dar mais um passo decisivo no universo literário. Em entrevista exclusiva à Oku Saka, o autor revelou que está a preparar o lançamento duplo das suas novas obras infantojuvenis, parte do universo mágico da personagem Tchisola.



Como foi escrever "A Tchisola é uma menina que queria acelerar o tempo"? O que simboliza essa pressa? É uma crítica ao presente, um apelo ao futuro ou uma metáfora sobre o tempo da infância em Angola?
R: Escrever o primeiro livro foi um processo de aprendizagem poético, uma fase em que vi a minha filha em um processo de desenvolvimento considerado rápido, precoce, seja na fala, seja nos primeiros passos e até no desenvolvimento psico-motor. Com isso surgiram várias preocupações de como eu estaria preparado ou não para educar aquele ser que parecia acelerar o tempo.

Por que escolheste o universo infantojuvenil para contar essa história? Há uma intenção de intervir desde cedo na consciência das crianças leitoras?
Primeiro para referências nacionais. Eu cresci sem muitas referências de livros infantojuvenis e dos que li, eram na sua grande parte estrangeiros. E também pela necessidade de criar e deixar para as crianças uma obra de interação e ensinamentos sobre a importância da família na base da educação da criança angolana.

Como foi o processo de construção da personagem Tchisola? Inspiraste-te em alguém real ou é uma síntese de várias meninas angolanas que carregam sonhos maiores que o tempo?
O processo de construção foi fácil porque a personagem tem como base de inspiração a minha primeira filha. O universo da Tchisola é totalmente inspirado naquela que é uma das minhas maiores inspirações (Willa Tchisola).

Que valores ou reflexões esperas que a criança (ou o adulto que a lê) leve desta obra?
O que qualquer criança angolana deve saber, sentir e aprender: a importância da família, a importância da paciência, o poder da comunicação e participação dos pais na jornada das nossas crianças em momentos de dúvidas, medos e frustrações.

Em Angola, a literatura infantojuvenil ainda ocupa um espaço tímido. O que te motivou a investir neste género? E que impacto esperas causar na formação das novas gerações?
De fato temos um caminho longo por fazer neste tipo de literatura e poder contribuir será de grande importância para mim. Sempre li livros estrangeiros para os meus filhos pela falta de referências angolanas nesta área. Poder ajudar a mudar essa visão torna tudo muito mais agradável.

Que papel acreditas que a literatura deve desempenhar na educação das crianças angolanas? E que desafios ainda impedem uma maior circulação e leitura de obras como a tua nas escolas?
Acima de tudo identidade. As nossas crianças precisam de livros, personagens, exemplos nacionais e locais com que possam se identificar. Essa é a minha maior missão com os meus 9 livros escritos até aqui.

Achas que escrever para crianças exige mais responsabilidade ética e estética do que escrever para adultos? Porquê?
Escrever para crianças exige paixão, exige navegar por um rio de criatividade. A criação do mundo mágico da Tchisola surge exatamente por isso, pelo amor às crianças, pela necessidade de alimentar os seus sonhos.

Como foi o teu processo criativo? Houve algum momento em que sentiste que estavas a escrever algo maior que um livro?
O primeiro livro foi um processo fácil, fácil porque foi a base do que sempre quis passar para a minha família, aos meus filhos em termos de ensinamentos. O segundo livro foi uma viagem emocional pelos sentimentos envolvidos pela personagem principal. Foi difícil porque criar um mundo mágico que distorce a realidade implica se permitir viajar por algo que nunca se entende pelo lógico.

Tens outros projectos infantojuvenis a caminho ou este é um momento isolado na tua carreira literária?

O Mundo Mágico da Tchisola tem 4 livros fechados, aonde irei lançar 2 destes livros. E temos ainda 4 livros fechados do irmão da Tchisola (Luzolo), que acaba por dividir o mesmo universo que a Tchisola, mas com aventuras completamente diferentes, mas super envolventes. 

Fotos


Ricardo Buta nasceu em Cabinda, Angola, e construiu uma trajectória marcada pela versatilidade, criatividade e impacto social. Iniciou-se no mundo da musculação em 2008, o que o levou a criar a marca Mandume Sportswear e a especializar-se em áreas como nutrição, educação física e gestão bancária. Em 2017, lançou o programa FIT EM 14 SEMANAS, pioneiro no coaching online em Angola, que impactou milhares de pessoas. Ao mesmo tempo, redescobriu a escrita como forma de expressão emocional, dando início à sua carreira literária.

Inspirado pelos filhos, mergulhou na literatura infantojuvenil com histórias que valorizam a família, a identidade e o crescimento emocional. Criou o podcast Universidade com o Stor durante a pandemia, tornando-se uma voz popular entre os jovens. Em 2021, fundou a associação Nkangu, que apoia crianças com bolsas e assistência social. Em 2024, promoveu o primeiro Musclecontest Angola, expandido para Moçambique. Ricardo Buta é hoje uma referência que une corpo, mente e coração num percurso de transformação e inspiração.


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