Oku Saka

Entre o Grito da Rua e o Silêncio do Poder: O Plano Desvendado

Angolano, abra os olhos! O que está a acontecer no nosso país não é por acaso. As ruas que ardem com a revolta popular e os saques a armazéns não são meras explosões de desespero, são sintomas de uma estratégia maior, um jogo perigoso onde a nossa liberdade e o nosso futuro estão em risco. 

A Sociologia Política ensina-nos que a violência não é um monólito, mas sim um reflexo complexo das relações de poder. E, em Angola, assistimos a um dilema perturbador entre o Estado de Violência e a Violência de Estado.

O que temos visto nas nossas ruas – os atos de vandalismo, os arrastões a supermercados e armazéns de comida – é o que a Sociologia Política define como um Estado de Violência: a manifestação de fúria e desespero de uma massa popular saturada e frustrada, que se sente sem meios legítimos de reivindicação. É a panela de pressão a rebentar quando a válvula de escape está avariada. A população, ao que tudo indica, quer comida e não ouro, e a subida abrupta dos transportes foi o rastilho para uma explosão já esperada.

No entanto, a grande questão é: quem é o verdadeiro causador deste cenário? O plano que se desenha é simples (e perigoso). Primeiro, as regras foram mudadas: no MPLA, já não é preciso ser líder do partido para ser candidato a Presidente. Isto significa que João Lourenço pode continuar a mandar no partido, e colocar alguém "da sua confiança" (um peão) na cadeira presidencial – a chamada "bicefalia".

Em segundo lugar, assistimos a uma aparente inação. As manifestações, as greves, e até os atos de vandalismo são usados como justificativa, com o governo que "não faz questão de travar" o caos social. É aqui que entra o lado mais sombrio da equação: a Violência de Estado. Não apenas na repressão direta, mas na omissão calculada que permite a escalada do desespero. O silêncio ensurdecedor do Presidente da República, que num país sério já deveria ter vindo a público para orientar o seu governo a negociar com as organizações da sociedade civil, não é uma falha, mas parte integrante do plano.

E qual é o xeque-mate? É a declaração de um "Estado de Sítio". Isto suspende os nossos direitos fundamentais – liberdade de ir e vir, de protestar, de falar – e confere um poder total ao governo. É precisamente o que o Advogado Sérgio Raimundo alertou: "Uma intenção clara do poder político de procurar impelir o povo para as ruas, para depois sair com reações armadas e abafar esse tipo de manifestações generalizadas. Declarar um estado de sítio, suspender a Constituição e permitir que a atual liderança possa fazer mais dois mandatos…". No meio do caos e da suspensão das leis, o objetivo final: "zerar" os mandatos do Presidente, abrindo caminho para que ele fique no poder por tempo indeterminado, ou continue a ditar as regras por trás de um "peão".

Não nos iludamos. Não é o povo que causa o caos, o povo é a vítima das circunstâncias criadas. A verdadeira responsabilidade recai sobre aqueles que, no poder, manipulam as rédeas da ordem social e das leis para perpetuar-se. 

A nossa liberdade está em jogo. É imperativo que compreendamos estas dinâmicas para não sermos cúmplices silenciosos da erosão da nossa democracia.

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