Oku Saka

Filas nos ATMs persistem apesar do crescimento dos canais digitais: "clientes com pouca instrução"

O uso dos canais digitais bancários em Angola continua a crescer, mas a modernização não chegou ainda às filas. Os ATMs permanecem lotados, mesmo com o Multicaixa Express e os TPAs a liderarem em número de operações.


Segundo dados da EMIS, os caixas automáticos registaram cerca de 260 milhões de operações no primeiro semestre de 2025, um crescimento de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda assim, ficaram atrás do Multicaixa Express, com impressionantes 895 milhões de operações, e dos TPAs com 327 milhões.

Mas se o ranking de uso mudou, o volume de dinheiro ainda encontra nos ATMs um dos principais corredores. Só nos primeiros seis meses do ano, foram movimentados pouco mais de 6 biliões de kwanzas, o que representa 31% dos montantes globais na rede Multicaixa. Um aumento de 15% em relação aos 5 biliões movimentados no mesmo período de 2024.

A confiança dos clientes nos caixas automáticos continua alta, especialmente para valores mais elevados. “Muitos ainda consideram os ATMs mais seguros, sobretudo com o aumento das burlas nos canais digitais”, aponta o relatório da EMIS.

Para o presidente da ACONSBANC, Nelson Prata, a resistência à digitalização está ligada ao perfil socioeducativo dos clientes bancários. “Ainda temos uma grande franja de clientes com pouca instrução. Temos dois segmentos diferenciados”, explica.

O fenómeno é agravado pelo peso do mercado informal na economia angolana, onde a maioria das transacções é feita em dinheiro vivo. Isso obriga milhares de cidadãos a dependerem dos ATMs para levantamento e até mesmo para consultas de saldo, que poderiam ser feitas via Multicaixa Express com muito mais rapidez.

Segundo os dados, as consultas representam hoje 49% das operações totais na rede Multicaixa. Foram mais de 739 milhões de consultas entre Janeiro e Junho deste ano, contra 447 milhões no mesmo período de 2024, um salto de 65%.

Nelson Prata defende que a mudança de cenário exige mais do que actualizações tecnológicas. “É preciso apostar fortemente na educação financeira e na literacia digital. Não só pelos bancos, mas também pelo sistema de ensino. As escolas devem ser agentes activos na transformação deste perfil comportamental.”

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