O apagão de grandes proporções que atingiu Portugal, Espanha e partes da França na última segunda-feira, 28 de abril, deixou o continente em alerta. A princípio, tudo parecia resumir-se a uma falha técnica nas centrais solares espanholas, mas rapidamente o episódio tomou contornos mais sérios, com investigações formais e suspeitas geopolíticas.
Ainda assim, o alarme já estava acionado. De acordo com a Red Eléctrica de España, o problema teve início com uma quebra súbita na produção de energia solar, o que teria provocado uma reação em cadeia nos sistemas interligados da Península Ibérica e no sul de França. A REN, em Portugal, falou inicialmente em perda de sincronização e oscilações elétricas, tendo revisto posteriormente a declaração.
O juiz José Luis Calama, da Audiência Nacional espanhola, não descartou a possibilidade de sabotagem, e deu início a uma investigação por suspeita de ciberterrorismo. Ainda que, até ao momento, não haja confirmação oficial de ciberataques, o governo espanhol declarou que todas as hipóteses estão a ser analisadas. Já o Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal afirma não haver indícios de ataque informático.
Mesmo com os desmentidos, o passado recente da Europa continua a alimentar desconfianças. Desde a guerra na Ucrânia, vários países europeus têm reportado tentativas de sabotagem em redes elétricas, sistemas de comunicação e outras infraestruturas críticas, sempre com o dedo apontado à Rússia.
A Comissão Europeia anunciou que será feita uma investigação técnica independente, com participação da REN, Red Eléctrica, RTE (França), ENTSO-E e ACER. O relatório final deverá ser entregue em até seis meses.
A energia foi restabelecida, mas a sombra do apagão continua a pairar. Seria mesmo apenas um problema solar, ou alguém quis lembrar à Europa que segurança energética também se joga no tabuleiro da geopolítica?