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Em ditaduras, os cidadãos não devem analisar a política, defende Jerónimo Nsisa

No seu mais recente texto intitulado “Pensar e Fazer Pensar”, o activista Jerónimo Nsisa denuncia o que considera uma estratégia de manipulação do regime angolano, que recorre a figuras mediáticas para distrair a atenção do público nos momentos de tensão política.

Ativista angolano Jerónimo Nsisa 

Segundo Nsisa, a luta pelo controlo da informação em Angola já não se faz apenas nos corredores da TPA ou da RNA. Com a ascensão das redes sociais, o MPLA teria sido forçado a adaptar-se, contratando novos agentes: influenciadores, kuduristas e humoristas, para construir narrativas de distração e minimizar o impacto das críticas.

O activista explica que esta estratégia se baseia no referencialismo, uma técnica que cria figuras públicas populares com conteúdos fúteis, amplamente promovidos por algoritmos pagos e passagens privilegiadas nos meios de comunicação. A sua função destes é servir de distração colectiva e moldar o subconsciente social, uma táctica inspirada na psicologia do inconsciente colectivo de Carl Jung.

No centro da crítica está a influenciadora Neth Nahara, que, segundo Nsisa, foi usada em 2022 para acalmar os ânimos populares após as eleições controversas. A sua recepção mediática em Luanda, coordenada por figuras ligadas ao poder, teria sido uma manobra de desvio, num momento em que o país exigia explicações sobre suspeitas de fraude.

Agora, com o país a debater uma proposta controversa de revisão da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais que, entre outros pontos, visa substituir o cartão de eleitor pelo BI e eliminar a acta síntese, Neth Nahara volta a surgir com uma nova polémica, protagonizando uma cena pública no aeroporto que, para Nsisa, teria sido cuidadosamente orquestrada pelo Gabinete de Acção Psicológica da presidência.

“Em ditaduras, os cidadãos não devem analisar a política apenas pelos factos, mas pelos seus objectivos e o que está por detrás dos mesmos”, alerta Nsisa.

O momento, segundo o activista, não é inocente. As manifestações de revolta contra o processo eleitoral e a indignação crescente da sociedade civil colocam o regime num beco político. É neste contexto que surgem as polémicas, sempre oportunas, para mudar o foco da discussão.

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