Dois juízes angolanos envolveram-se numa altercação pública há alguns meses, alegadamente devido à partilha de um suborno de 30 milhões de kwanzas, oferecido para assegurar a libertação de Mohamed Lakkis, cidadão libanês acusado do homicídio de Ana Bela Marques. O episódio foi revelado pelo jornalista Rafael Marques, durante uma entrevista à Rádio MFM, sem citar inicialmente os nomes dos envolvidos.
De acordo com o portal Club-K, o juiz identificado como Fernando Bumba Kikulo, então vinculado à 9.ª Secção da Sala de Crimes Comuns do Tribunal da Comarca de Luanda, terá recebido os 15 milhões que Lakkis alegava possuir, e libertado o arguido sob termo de identidade e residência. O primeiro magistrado a analisar o caso, um juiz de garantias cujo nome não foi oficialmente revelado, teria recusado o mesmo valor por considerar insuficiente. A decisão unilateral de Kikulo resultou num confronto físico entre os dois, protagonizado em plena via pública.
Face ao escândalo, o Conselho Superior da Magistratura Judicial, liderado por Joel Leonardo, decidiu suspender Fernando Bumba Kikulo em Outubro de 2024. O outro magistrado foi transferido para a comarca do Camucuio, no Namibe, tendo sido retirado da função de juiz de garantias. A decisão invocou apenas “violação do dever de diligência”, sem aplicação de outras medidas disciplinares.
Em Maio de 2025, já afastado, Fernando Bumba Kikulo voltou ao centro das atenções ao ser procurado por familiares de funcionárias do SME detidas por motivos não especificados. Incapaz de intervir legalmente, encaminhou os interessados ao advogado Carlos Salombongo, alegadamente ligado a uma rede informal de tráfico de sentenças, associada ao próprio Joel Leonardo. A negociação foi exposta publicamente e a libertação não chegou a acontecer.
O caso volta a expor a fragilidade ética do sistema judicial angolano e reforça os apelos para uma reforma urgente e profunda no sector, onde magistrados em disputa por luvas transformam os tribunais em arenas de interesses pessoais e corrupção descarada.