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Sérgio Piçarra recusa condecoração dos 50 anos da independência em protesto contra censura

Sérgio R. Piçarra, conhecido cartunista angolano e autor de personagens icónicas como o Mankiko, recusou, em carta aberta, a condecoração atribuída pela Presidência da República no âmbito das celebrações dos 50 anos da independência de Angola. O artista agradeceu a menção, mas afirmou que não poderia aceitar uma distinção vinda de um governo que, segundo ele, tem sistematicamente silenciado o seu trabalho e bloqueado o seu acesso à imprensa pública.


"Por razões de consciência, sou obrigado a recusar tal condecoração", começa por explicar, num texto que mistura elegância institucional com crítica mordaz. Piçarra denuncia que não lhe é permitido publicar no Jornal de Angola, que os seus livros são ignorados pela TPA e que os órgãos públicos de comunicação, sustentados por fundos do Estado, estão ao serviço exclusivo do Governo.

Na mesma nota, o autor considera que a liberdade de expressão continua refém em Angola e que homenageá-la nestas condições seria uma encenação de justiça, enquanto a realidade permanece aprisionada. 

“Aceitar uma medalha nestas condições seria uma incoerência da minha parte que o Mankiko e a Fatita, mas sobretudo a Esperança e o Futuro, não me perdoariam”, escreveu.

A recusa da distinção torna-se, assim, uma denúncia pública da exclusão de vozes incómodas no espaço mediático estatal e do uso partidário das instituições públicas, incluindo na selecção das personalidades a homenagear no contexto histórico do país. Piçarra termina a nota com um gesto simbólico e visionário: “Declino a medalha como sinal de protesto na esperança de que, num futuro próximo, num momento de total liberdade, as condecorações a atribuir sejam verdadeiramente dignas do seu significado.”

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