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Organizações apelam à Argentina para cancelar amigável com Angola: "está a ser usado como propaganda"

Quatro organizações angolanas de defesa dos direitos humanos endereçaram uma carta aberta à Federação Argentina de Futebol (AFA) e à seleção nacional da Argentina, pedindo o cancelamento do jogo amigável com Angola, previsto para novembro em Luanda, no âmbito das comemorações do 50.º aniversário da independência.

O documento é subscrito pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz e Integridade da Criação da CEAST, Pro Bono Angola, Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) e Friends of Angola (FoA). Nele, as organizações enfatizam que o apelo “não se opõe ao desporto nem aos laços de amizade entre os povos”, mas expressa “um grito de consciência diante da dolorosa realidade vivida por milhões de angolanos”.

As entidades denunciam que o país vive uma grave crise social, com base no relatório SOFI 2025 – O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, segundo o qual mais de 27 milhões de angolanos (71,4% da população) não tiveram acesso a uma dieta saudável em 2024, e 8,3 milhões sofrem de subnutrição. “Enquanto recursos públicos são canalizados para eventos desportivos de grande porte, milhares enfrentam fome crónica, anemia severa e insegurança alimentar”, sublinham.

O documento também critica o ambiente político nacional, marcado por repressão e restrição das liberdades. Os subscritores recordam que, entre 28 e 30 de julho deste ano, protestos populares resultaram em pelo menos 30 mortos, 277 feridos e 1.515 detenções, segundo dados da Polícia Nacional. Além disso, denunciam prisões arbitrárias de jornalistas e ativistas, uso excessivo da força policial e criminalização da mobilização cívica, sobretudo entre os jovens.

As organizações afirmam que o amigável com a Argentina, anunciado como parte das celebrações da independência, está a ser utilizado como “instrumento de propaganda”, escondendo desigualdades e crises estruturais. “Investir milhões de dólares num evento desportivo, enquanto hospitais colapsam e a fome aumenta, não é prioridade legítima — é um insulto à dignidade humana”, acusam.

Num apelo direto a Lionel Messi, aos jogadores e à AFA, os subscritores defendem que um cancelamento seria “um ato corajoso, ético e profundamente humanitário”, capaz de enviar uma mensagem ao mundo de que “a justiça e a dignidade valem mais do que qualquer espetáculo desportivo”.

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