Nas comunidades Nyaneka Umbi, no município dos Gambos, província da Huíla, reacendeu-se o debate em torno do COE, uma prática cultural centenária aplicada como punição para casos de adultério. Tradicionalmente, o homem envolvido com a esposa de outro é obrigado a pagar uma ou duas cabeças de boi ao marido traído, decisão normalmente arbitrada por uma autoridade local.
Nos últimos tempos, porém, autoridades tradicionais admitem que o COE tem sido desvirtuado e transformado em verdadeiro negócio, com famílias a utilizarem o adultério como forma de obter ganhos materiais ou até de reduzir custos em processos de divórcio. Diante desse cenário, sobas da Ombala dos Gambos defendem mudanças: além do homem, também a mulher adúltera deve passar a ser multada, com o pagamento dirigido à esposa do homem com quem se envolveu.
A proposta, no entanto, está a dividir opiniões. Para alguns líderes e mulheres locais, responsabilizar igualmente as mulheres ajudaria a desencorajar o adultério.
Cristina Muiticavela, segunda esposa do rei da Ombala dos Gambos, defende que essa medida teria um efeito preventivo: “Toda mulher que for responsabilizada pensará duas vezes antes de trair o marido.”
Já outros, como o seculo do bairro Xinhange Velho, Vasco Tote, rejeitam a ideia, argumentando que o COE deve recair apenas sobre o homem, por ser ele quem procura a mulher.
O rei da Ombala dos Gambos lembra que o objetivo original do COE não era patrimonial, mas sim garantir paz e equilíbrio na comunidade. Contudo, admite que hoje o mecanismo tem sido instrumentalizado para fins de lucro e até como estratégia para facilitar pedidos de divórcio.
Enquanto uns defendem multas partilhadas entre homens e mulheres, outros sugerem simplesmente aumentar o valor do COE como forma de inibir o adultério. A discussão segue aberta, mas já revela uma tensão entre a preservação da tradição e a necessidade de adaptação às mudanças sociais que atravessam as comunidades dos Gambos.
🗞C.Kianda