Oku Saka

UNITA questiona impacto real das cimeiras internacionais na vida dos angolanos

A UNITA contestou esta sexta feira a eficácia das cimeiras internacionais realizadas em Angola, acusando o governo de transformar estes eventos num instrumento político para mascarar problemas internos. A posição foi apresentada pelo secretário geral do partido, Álvaro Chikwamanga Daniel, em declarações à agência Lusa, num momento em que Luanda se prepara para acolher a 7.ª Cimeira União Africana, União Europeia.

O dirigente reconheceu que estes encontros fortalecem a imagem externa do país e facilitam relações diplomáticas, afirmando que “as cimeiras permitem este intercâmbio de outros Estados com o nosso Estado”. Contudo, advertiu que estes benefícios se tornam superficiais quando usados como cortina para esconder desigualdades, falta de liberdades e desafios sociais persistentes. Na sua leitura, “os Estados autoritários têm tido esta oportunidade como uma forma de esconder aquilo que são os seus problemas reais, vão criando um conjunto de efemérides para passar a imagem de um Estado seguro”.

A tensão entre aparência e realidade é central na crítica da UNITA. Chikwamanga recorreu a episódios recentes para reforçar o argumento, destacando as interrupções laborais decretadas em Luanda nos dias 24 e 25 de novembro devido à cimeira, situação semelhante à registada durante as celebrações dos 50 anos da independência. Para ele, estas medidas penalizam empresas e afectam o ritmo económico da capital. O secretário geral lamentou que “as populações estejam a ser marginalizadas pelas autoridades” e lembrou que a paralisação de actividades traz perdas financeiras significativas.

O impacto económico, segundo o político, é apenas uma das camadas do problema. Chikwamanga insistiu que estes encontros precisam gerar resultados palpáveis para os angolanos. Questionou a distância entre os objectivos oficiais e a realidade concreta, evocando agendas como pobreza zero, ambiente sustentável e defesa dos direitos humanos. “Essas cimeiras têm reflexos na nossa realidade concreta? O que vale uma conferência sobre o ambiente quando andamos numa cidade extremamente poluída?”, questionou.

A crítica estendeu se às obras temporárias feitas para preparar eventos diplomáticos, que classificou como paliativas e desprovidas de impacto duradouro. Para o secretário geral, os benefícios devem ser visíveis, mensuráveis e sentidos pelas populações. “Se há reuniões que tratam dos direitos humanos e liberdades fundamentais e nós não melhoramos, para que valem as cimeiras?”, interrogou.

A cimeira UA UE, cujo lema é promover a paz e a prosperidade através de um multilateralismo eficaz, pretende reforçar a cooperação entre os dois continentes e consolidar a parceria estratégica África Europa. O contraste entre este ideal e o quotidiano vivido nas ruas de Luanda, segundo a UNITA, é precisamente o ponto de fricção que não pode ser ignorado.

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