A polícia Nacional confirmou que quatro pessoas morreram e pelo menos 500 foram detidas durante as manifestações registadas esta semana na capital do país, Luanda. O que começou como uma paralisação de taxistas contra o aumento do preço dos combustíveis transformou-se numa explosão social que, segundo activistas, expõe um mal-estar profundo e prolongado.
Na segunda-feira, milhares de pessoas saíram às ruas da capital. Barricadas com pneus em chamas, saques, destruição de viaturas e confrontos com a polícia marcaram o dia. Os protestos prolongaram-se até terça-feira, com novos episódios de violência e reforço da presença policial.
“A questão do preço do combustível é apenas a gota d'água que reacendeu o descontentamento público generalizado... As pessoas estão fartas. A fome grassa e os pobres estão se tornando miseráveis”, afirmou à BBC a activista Laura Macedo, presente em acções de protesto anteriores.
A origem dos protestos está no aumento de mais de 33% no preço do gasóleo, uma medida tomada no início de Julho no âmbito do processo de retirada dos subsídios aos combustíveis. A decisão impactou de forma directa os taxistas e, por arrasto, elevou os preços de bens essenciais, afectando severamente a vida da maioria da população.
O presidente João Lourenço rejeitou as críticas, afirmando que o preço do diesel em Angola continua “muito abaixo da média mundial” e que os protestos têm como objectivo desestabilizar o país. Contudo, com o salário médio mensal fixado nos 70 mil kwanzas, e sem que a prometida actualização salarial tenha sido efectivada, a frustração intensificou-se.
A ANATA, uma das principais associações de taxistas, afastou-se dos actos de violência, mas declarou que a voz dos taxistas “reflecte o clamor do povo angolano”. Enquanto isso, a imprensa estatal foi duramente criticada por ignorar os protestos, mantendo a sua programação regular.
Num comunicado, o partido no poder, MPLA, afirmou que os protestos tentam “manchar e dificultar a celebração do 50.º aniversário da independência”. Já as autoridades locais de Luanda descreveram os eventos como actos de vandalismo promovidos por grupos “sem representação legítima”.
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