O salário mínimo de 70 mil kwanzas em Angola é insuficiente para cobrir as necessidades básicas das famílias, e o aumento para 100 mil kwanzas, que entra em vigor a 16 de setembro, continua a ser visto como um valor demasiado baixo perante o elevado custo de vida.
O maior peso das despesas está no acesso à água, já que a zona não dispõe de rede pública. Só nesse item, a família gasta cerca de 18 mil kwanzas por mês. Quatro dos filhos frequentam escolas privadas, única alternativa no bairro, o que eleva ainda mais as despesas.
Nos primeiros dias após o pagamento, a família consegue comprar alguma proteína, como peixe seco (cabombo) e feijão, mas a partir daí a alimentação resume-se, quase sempre, a papa de fuba com açúcar de manhã e "o que aparecer" ao jantar.
Mesmo com o novo salário mínimo de 100 mil kwanzas, António diz que pouco vai mudar. "É uma gota no oceano", afirma, temendo que os preços da cesta básica subam em simultâneo, anulando o impacto da medida. Além disso, não sabe se a empresa em que trabalha cumprirá a nova tabela, razão pela qual pede maior fiscalização por parte do Estado.
Com a mulher a tentar manter um negócio instável e sem condições de ajudar significativamente nas despesas, os projectos de vida da família estão todos adiados. António sonha em regressar ao Uíje, sua província natal, para recomeçar a vida, mas a falta de recursos torna essa ideia distante.
Para o chefe de família, as políticas atuais não são inclusivas e não atendem às camadas mais pobres.
"O governo deveria começar por reduzir o preço da cesta básica e investir em educação e formação profissional", defende. Ainda assim, mantém a fé como âncora para resistir: "Vivemos graças a Deus, e graças a Deus temos vivido com esse bocado que ganhamos".
Fonte: Lusa