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Padre Wacussanga: "O MPLA não está preparado para mudanças, apenas para lutar pela manutenção do poder”

Às vésperas dos 50 anos da independência nacional, Angola continua mergulhada em desigualdades sociais profundas. Essa foi a principal mensagem da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que reuniu os bispos católicos na quarta-feira, 17 de setembro, em Viana.


Na assembleia plenária, os líderes da Igreja Católica denunciaram a existência de “buracos sociais e institucionais profundos” no país e apelaram a reformas urgentes. Para aprofundar a reflexão, a DW África conversou com o padre e sociólogo Jacinto Pio Wacussanga, natural da província da Huíla, que aponta diretamente para as políticas do Executivo como causa central do agravamento da pobreza.

“O que levou ao agravamento da situação são as medidas impopulares incorretas tomadas pelo Governo de Angola. Uma delas é a questão dos combustíveis, cujo aumento constante sem condições mínimas agravou as vulnerabilidades existentes”, afirmou. O sacerdote lembra que o centro-sul do país enfrenta estiagens recorrentes que elevam os índices de fome, pobreza e malnutrição, levando comunidades a níveis de vulnerabilidade crônica.

Segundo Wacussanga, o modelo de governação do MPLA “está ultrapassado” e não existe vontade política para reformas estruturais. “Combater a corrupção seria autodestruir o partido. O MPLA, sobretudo na liderança atual, não está preparado para mudanças profundas, apenas para lutar pela manutenção do poder”, acrescentou.

O padre considera ainda que, ao longo das últimas cinco décadas, Angola falhou em garantir dignidade e justiça social ao povo. Entre os pontos críticos, destacou a ausência de reformas económicas e judiciais, a não concretização da descentralização, a falta de reconciliação nacional e a inexistência de uma cura coletiva dos traumas da guerra civil.

Apesar das críticas, a Igreja Católica reafirma a sua disposição em continuar a intervir no espaço público. “A Igreja não pode assumir o papel dos partidos políticos, mas tem de apelar por mais aberturas. Tal como fez nos anos 1991 e 1992, quando defendeu o multipartidarismo, continuará a pugnar por mudanças, inclusive lembrando ao MPLA que a oposição também é espaço de aprendizagem e responsabilidade”, sublinhou Wacussanga.

A intervenção da CEAST e da Igreja Católica insere-se num momento em que o país enfrenta protestos sociais, acusações de repressão policial e crescentes críticas à governação. Para os bispos e para vozes como a do padre Wacussanga, a urgência de reformas deixou de ser apenas um debate político, passando a ser uma questão de sobrevivência social.

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